Padre Elias escreve sobre fechamento da rádio Coité FM

Sabem que para manter uma Rádio Comunitária os (as) apaixonados (as) por ela esmolam até centavos?
O Padre Antonio Elias Souza Cedraz, que durante muito tempo foi pároco em Conceição do Coité, escreve sobre a comunicação do Brasil, especificando o fechamento da radio comunitária Coité FM.
Após receber um e-mail descrevendo a situação da Radio Comunitária Coité FM, senti a necessidade de dar a minha contribuição. Começo fazendo algumas perguntas:
Alguém sabe ou imagina como se adquire, se compra um transmissor de uma Rádio Comunitária? Tomamos conhecimento e consciência de que todos (as) que trabalham não recebem nada em troca? (Às vezes pagam dos seus míseros salários para trabalhar).
É bom trabalhar e lutar por uma causa sentindo-se ameaçado dia e noite pela Polícia Federal? (Sabendo que vivemos num país com um regime Democrático, Popular e Governado pelo Partido dos Trabalhadores).
Quem sabe como funciona e como vivem os membros da Associação de uma Rádio Comunitária? Em sua maioria são mantidas com doações de pessoas da própria Comunidade, e de promoções para angariar recursos. O pessoal da Coité FM faz rifas vende lanches após as Celebrações Religiosas para manter a Rádio. Mas o que eu quero mesmo é despertar em todos o sentimento da indignação. Sim, isso mesmo. Precisamos urgentemente da organização dos (das) indignados (as). Não é possível entender nem aceitar dormindo em berço esplendido esta situação. Acompanhem meu raciocínio: Estamos num país conhecemos sua história. Construímos a duras penas uma forma de governo. E depois este mesmo governo, democrático  popular petista se volta contra nós. Quem viu e participou das primeiras Rádios Comunitárias neste Brasil, sabe que “copiamos” de Cuba e da Nicarágua. E o PT estava nesta vanguarda mesmo sem ser formalizado e estruturado como está hoje. Pra quem lutou, sofreu e viu horrores na época de chumbo, sonhar com mudanças, participar de velórios de companheiros trucidados pelo golpe militar, o sonho de um governo popular e democrático era a maior glória que se podia imaginar. Pois bem, este sonho se tornou realidade há doze anos. E o que mudou? Mudou muita coisa para melhor. E não vem ao caso citá-las. O que cito e sinto é uma decepção muito grande, fundamentada em fatos. É ou não é o cúmulo do absurdo, irmãos perdendo noites, preocupados em ser flagrados expressando o seu direito de falar numa rádio? Isso não é ditadura: Polícia Federal levando transmissores de rádios Comunitárias. E sem aviso prévio ou intimação judicial. Aliás, Rádio Comunitária tem novo nome: Rádio Pirata. Assim os poderosos a batizaram e o governo democrático aceitou. Vemos nos últimos anos uma ditadura civil  camuflada em democracia. Às vezes é até pior que a ditadura militar. Pois sem esperarmos ela chega e leva nossos sonhos já realizados.                                                                                              
Sonhamos quantos anos com o PT no poder? Trabalhamos e lutamos muito. Gente que deu a vida por este sonho. E agora que o sonho foi construído, é realidade, nos deparamos com o passado: Não temos nem vez nem voz. Aliás, temos voz, mas não podemos falar porque os donos do PODER mandam e desmandam nos Meios de Comunicação. E o pior de tudo, sob o olhar conivente do Governo Popular, Democrático e Petista. Voltemos ao foco: Rádio Comunitária Coité  FM.
Na região sisaleira foi uma das primeiras. Instalada em 1997. Até hoje a burocracia democrática e popular não concedeu a outorga (concessão).
Outras rádios da região receberam a autorizaação. Alguns Municípios estão com 2 (duas) Rádios Comunitárias. Tudo bem. Mas por que não a Coité FM?
Será que é medo da concorrência ou será que os métodos usados para a outorga não foram “captados” pelos coiteenses?
Foram levados 4 transmissores da Coité FM (2 em 3 meses).

Alguém me responde por que levaram? Quanto custa um transmissor? Como adquirem o dinheiro para comprá-los? Não. Ninguém sabe responder estas perguntas. Só sabemos que levaram. Não. Levaram não tem sujeito. Mas aqui tem o “sujeito”. Sabemos quem levou. Foi a Polícia Federal, juntamente com assessores e membros do Governo Democrático, Popular e Petista. Não é pra lamentar, e se indignar com uma coisa desta? O governo do povo, eleito com o voto do povo, utiliza os mesmos métodos da Botina Militar. E o pior, disfarçado em democracia. E tem mais, ouvimos e vemos os agentes dos golpes dizerem: Agimos assim para cumprir a ordem, não fazemos por que queremos ou gostamos. Mas… é a ordem. Ordem de quem? Do Governo Democrático, Popular Petista. Alguém pensa nas conseqüências de uma autuação policial? Como pode viver tranqüila uma pessoa ameaçada pela Polícia Federal? Só quem já passou por isso sabe. Vou repetir: o pior de tudo é que a gente pensava que o tempo de chumbo, da bota, do medo havia passado. Não é passado. É presente em nosso meio. Infelizmente. É ou não é um caso de indignação? Temos ou não motivos para nos decepcionar com o Governo Democrático Popular Petista que aí está? Não vejo outro meio a não ser a indignação e o protesto veemente com esse modo de agir da Polícia Federal e da ANATEL. Senhores governantes, senhora presidenta, vamos dar ao povo aquilo que o povo lhe deu: O poder de se expressar democraticamente. Basta de aumentar o poder de quem já tem tanto poder, tirando a vez e a voz do povo.
                                                                                        


  Pe. Antonio Elias Souza Cedraz

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