Candeal: Seca terrível dizima pastagens, e população, sem água e comida, pede socorro para salvar os seus animais

imageEm cena dramática, animais morrem como nos tempos terríveis
Morte de animais, pastagens dizimadas, falta de trabalho e inexistência de água potável e alimento para o consumo humano e animal, tem provocado grandes transtornos aos moradores de Candeal, devido à seca que atinge o município da refião sisaleira.
O quadro na comunidade, pela segunda vez em Situação de Emergência, decretada pelo prefeito Ribeiro Tavares, não difere do reinante nas demais localidades da mesma área fisiográfica afetada pelos efeitos climáticos. Para muitos a atual seca é muito mais grave do que a ocorrida em 1993, que devastou pastagens e rebanhos bovinos em vários municípios do semiárido baiano.  

Com uma população de quase 10 mil habitantes e uma área territorial de 465 km2, Candeal sofre desde o ano passado sem safra agrícola de subsistência - milho, feijão e mandioca -, por causa da escassez de chuvas, o que tem contribuído, também, para o aniquilamento da pecuária de corte e leite, principal atividade econômica do municipio.

O município considerado sede de uma das principais bacias leiteira da região de Feira de Santana está com sua produção praticamente zerada uma vez que já chegou a produzir mais de 30 mil litros de leite/dia na década de 80 e hoje não chega a 5 mil, o que tem causado prejuízos e desespero aos produtores.

Sem água e alimento nas propriedades, os animais estão morrendo. Muitos estão caídos, debilitados, sem forças para caminhar. Alguns criadores estão sofrendo prejuízos elevados, a exemplo de Zé de Genário, que na semana passada perdeu de uma só vez, em sua fazenda, no povoado de Quatro Estradas, nove bovinos e não sabe como reverter a situação, já que não existem pastagens e o mesmo vem se verificando em relação à água.

Alguns criadores vêm usando o mandacaru, palma e torta de algodão para alimentar os animais. O sisal, que poderia servir de alimento alternativo, não é cultivado no município. Até o mandacaru que é uma planta nativa e serve nessa época de alimento, está em vias de extinção, já que ninguém planta e só faz colher para dar ao gado.

Os criadores não se preparam para a época da seca como se não estivessem no semiárido, enfrentando quase que anualmente longas estiagens.

Situação dramática

A situação da zona rural em Candeal é dramática. Diante das adversidades como fome, sede, falta de trabalho, morte de rebanhos e da cultura de subsistência, que não existe há algum tempo, e, se não chover logo, muitos agricultores não sabem o que fazer.

O prefeito Ribeiro Tavares disse que a prefeitura conta com quatro carros-pipa trabalhando no sistema de 24 horas, como forma de atender a demanda da população, que é muito grande e garante que 80% do território sofrem com os efeitos climáticos, citando as regiões de Belo Alto, Quatro Estradas, Chapada, São João, Pau d’Arco e Macaco como as mais castigadas.

“Nem a água da Embasa que abastece a sede de Candeal serve para o consumo humano, devido ao alto teor de salubridade”, explica o prefeito, que lembra ainda que “o leite acabou, a agricultura não existe e o que vem segurando a economia local sãos os salários dos servidores públicos, aposentados e cerca de 1.400 famílias cadastradas na Bolsa Família”. 

Ribeiro Tavares garante que a prefeitura tem feito além de suas possibilidades para atender as solicitações dos munícipes e diz que a falta de água só vai acabar no semi-árido nordestino quando os governos estadual e federal acordarem para a necessidade de construir grandes barragens, cisternas e implantar adutoras com água potável de boa qualidade como forma de atender não só aos moradores das sedes dos municípios como os das comunidades rurais.

“Há 90 dias, o governo liberou uma parcela de R$ 21 mil para a contratação de carro-pipa, enquanto o município tem um gasto mensal de mais de R$ 50 mil com o abastecimento de água”, explica Tavares.

Casos do drama

A doméstica Almira Freitas de Oliveira, 58 anos, cinco filhos, disse que vem sobrevivendo dos peixes que pega em meio à lama nas poças de água nos riachos, já que conseguir um dia de trabalho na roça está muito difícil.  O carroceiro Léo Correia dos Santos, morador da fazenda Alto do Alecrim, disse que todo dia chega a andar três quilômetros em busca de água potável.

Amélia Evangelista da Silva, 60 anos, 10 filhos, moradora da Fazenda Tanque, disse que o mandacaru, do qual tirava os espinhos naquele momento, tinha sido doado ”por um filho de Deus” e que o cacto só sustenta os animais por um período de seis meses.

Regina Gonçalves de Almeida, que teve 25 filhos, anda todos os dias mais de 2 quilômetros em busca de folhas de carrancudo nas propriedades de amigos para alimentar os 20 bovinos que tem. Ela também dá palma para os animais, mas uma carroça da (palma) doce custa em torno de R$ 40,00 e só da para alimentar no máximo nove animais.

Da redação, com informações e foto de Pedro Oliveira – Tribuna da Bahia / Sucursal Regional do Sisal/Coité

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