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Mulheres do semiárido incrementam renda com artesanato de sisal



A união faz a força. O velho ditado popular serve bem para descrever a Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão – Cooperafis. A entidade de Valente, no interior da Bahia, é fruto do trabalho das mulheres de três municípios da região – Valente, São Domingos e Araci. As mulheres, que trabalhavam em sua maior parte na limpeza de aguadas (reservatórios de água) da região, começaram a se organizar, há 13 anos, após um curso promovido APAEB – Valente.
O curso tinha como objetivo criar alternativas de renda para além do trabalho na zona rural. Foi lá que elas viram que, juntas, poderiam ganhar muito mais. “A gente viu que se a gente se unisse, trabalhando em grupo, seria também um trabalho mais leve para nós mulheres”, conta Valdeane Lopes Oliveira, de 34 anos, diretora financeira da Cooperativa.
A semente do que hoje é a Cooperafis foi plantada em 1999, num período de seca, como agora. Diversas mulheres se reuniram para discutir como formar a cooperativa e começaram a trabalhar juntas. Muitas já faziam artesanato para vender, mas não obtinham bons preços, entre outras razões, por não terem escala de produção. “Não dava pra atender algumas encomendas grandes”, afirma Eleneide Carneiro, presidente da Arco Sertão, um grupo de Valente que congrega cooperativas e associações de produtores e ajuda na comercialização dos produtos. Elas perceberam que juntas poderiam conseguir encomendas maiores e que pagassem mais. Após cerca de três anos de estruturação, a cooperativa foi fundada oficialmente em 2002 – este ano, ela completa uma década de vida. Hoje, mesmo com a forte seca, com os esforços coletivos, a vida está mais fácil para elas.
A organização surtiu efeito. Formada hoje por 122 mulheres do interior baiano, a Cooperafis vende até para grandes redes, como a Tok&Stok. Os produtos, todos feitos com fibra de sisal e caroá, são vendidos nas lojas da rede varejista de artigos para casa Brasil afora. Um dos grandes chamarizes é o descanso de panelas, feito de fibras de sisal. Na Cooperafis ele sai por R$ 6,50. Na Tok&Stok, o item atinge preços até três vezes mais altos. O produto das simples mulheres de Valente e arredores adorna casas das classes média e alta, em todo o País.
Mas não é apenas de descansos para panelas e pratos que vive a Cooperativa. A gama de produtos é extensa, com bolsas, chapéus e tapetes, entre outros itens. As mulheres, divididas em dez grupos - sete em Valente, dois em São Domingos e um em Araci, ganham por produção. Valdeane explica que, num bom mês, a Cooperativa chega a vender entre R$ 5 e R$ 7 mil.
Todo o sisal usado no artesanato é comprado na batedeira da Apaeb em Valente. Com volumes de compra maiores, as mulheres conseguem melhores preços e, consequentemente, a margem de lucro aumenta.
O perfil das cooperadas é similar. A maioria trabalha e muitas têm o cartão do Bolsa Família, mas a participação na cooperativa ajuda na renda da família. “É um complemento bom pra nossa renda”, diz. Valdeane é casada e mãe de dois filhos, que estudam, não tem sua terra, mas trabalha na área da sogra. É lá que a família planta feijão e milho para consumo próprio. O marido não tem trabalho fixo, mas faz serviços pela região, recebendo diárias. Ela explica que alguns maridos e companheiros até ajudam as mulheres no artesanato, mas a maioria não gosta de falar sobre o assunto, pois a atividade ainda é considerada feminina. “Ainda existe muito machismo”, lembra Eleneide. “Os homens não se identificam muito com o processo produtivo do artesanato”, contemporiza Valdeane.
A Cooperafis participou até hoje de todas as sete edições da Feira Nacional da Agricultura e Reforma Agrária (Fenafra). A exposição na Feira levou a cooperativa a receber encomendas de vários estados do país. “O reconhecimento foi muito forte em lugares como Rio de Janeiro e Brasília”, garante a diretora financeira. Para avançar ainda mais, a Cooperafis está em processo para obter o selo da agricultura familiar do estado da Bahia.
O trabalho vem rendendo outros frutos. A Cooperativa é uma das escolhidas para participar do Projeto Talentos do Brasil Rural. A iniciativa, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), SEBRAE-RS, Ministério do Turismo (Mtur) e Agência de Cooperação Técnica Alemã (GIZ), prevê investimentos de R$ 3,2 milhões.
O Projeto seleciona empreendimentos da agricultura familiar para a comercialização de seus produtos durante a Copa do Mundo de futebol de 2014, que ocorrerá no Brasil. O objetivo é inserir os produtos no mercado turístico. A iniciativa também prevê visitas a locais de produção. A intenção é divulgar o destino turístico, identificando os produtos da agricultura familiar com um selo de origem. O foco do projeto são as 12 capitais brasileiras onde ocorrerão jogos da Copa: Belo Horizonte/BH, Brasília/DF, Cuiabá/MT, Curitiba/PR, Fortaleza/CE, Manaus/AM, Natal/RN, Porto Alegre/RS, Recife/PE, Rio de Janeiro/RJ, Salvador/BA e São Paulo/SP. O Projeto busca valorizar a identidade cultural das regiões produtoras e possibilitar a venda dos produtos para todo o país.

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